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Dietas sensoriais não servem apenas para crianças com problemas sensoriais identificados. Todos nós precisamos de uma dieta com entrada sensorial. A maioria das pessoas participa naturalmente de atos conscientes ou subconscientes que satisfazem suas necessidades específicas.

Neste artigo você vai encontrar tudo o que precisa saber sobre Dieta Sensorial:

O que é dieta sensorial?

Quando mencionamos “dieta sensorial” , você pode pensar em comida ou restrição  alimentar, mas o termo não tem nada relacionado à alimentação. Uma dieta sensorial é um conjunto de atividades e estratégias que o Terapeuta Ocupacional elabora junto à família de crianças que necessitem de estratégias para manter um bom nível de alerta e regulação, facilitando uma boa participação nas tarefas de casa, da escola e no brincar, ou seja, ela desenvolve a criança através da textura, cor, sabor, cheiro dos alimentos e através da curiosidade das infinitas possibilidades.

Ficou com curiosidade de saber como isso pode acontecer?

Antes de entrarmos devidamente no assunto da Dieta Sensorial, primeiramente precisamos entender o que são as entradas sensoriais, e como acontece o processo de integração sensorial. 

Quais são os sistemas sensoriais?

Em resumo, temos 8 sistemas sensoriais, são eles:

  1. Tátil: é um dos maiores, e têm receptores por todo o nosso corpo através da pele. Quando ainda bebê, ele já tem uma função extremamente importante. É através dele, que a criança desde o nascimento, começa a interagir com o mundo, recebe toques, o colo da mãe, um carinho, por isso, tem grande papel no desenvolvimento emocional da criança. É através do sistema tátil que a  criança se acalma e se consola, ou também se irrita e fica mais estressada. Além disto, através do toque reconhecemos as características dos objetos, tamanhos, temperaturas, texturas. É uma das bases de várias habilidades que a criança irá desenvolver posteriormente. 
  1. Vestibular: outro sistema base no desenvolvimento infantil. Seus  órgãos se encontram dentro do ouvido interno. Ele é responsável, dentre outras coisas, por ajustes de posicionamento da cabeça, coordenação do movimento dos olhos e a integração dos dois lados do corpo. Se você hoje consegue pegar de forma eficiente uma bola lançada para você, ou consegue ter bom desempenho copiando o que está escrito no quadro numa sala de aula, agradeça entre outras coisas, ao seu sistema vestibular. Ele tem papel importante na organização da criança também desde muito pequeno. Qual bebê não se acalma com movimento rítmico de balançar no colo ? Ou se agita quando o balançamos numa brincadeira mais agitada. Ele interfere e muito no nosso ALERTA.

  1. Proprioceptivo: com receptores nos músculos, articulações e tendões. Esse sistema nos permite ter  percepção do nosso corpo no espaço. É através dele que a criança consegue graduar a força para poder escrever e não rasgar o papel, ou manter um bom controle de postura para permanecer sentado na sala de aula, ou ainda manter um bom tônus muscular para executar suas atividades rotineiras. Junto com o sistema tátil e vestibular, formam as bases para um bom desenvolvimento infantil.

  1. Visual: Através dos olhos, nos permite visualizar o que está à nossa volta. Algumas cores e ambientes podem nos deixar alertas ou nos acalmar. É um sistema de extrema importância para nossa atenção também, ambientes poluídos visualmente podem ser desafiantes para nossa concentração.

  1. Audição: Responsável pelo que escutamos, tem papel fundamental no desenvolvimento da fala e da linguagem. 

  1. Olfativo: os cheiros ! Diariamente somos expostos a cheiros agradáveis e desagradáveis. Nos serve como proteção também, já que nos permite sentir se uma comida não está própria para comer, ou se algo está queimando. Além de ativar memórias afetivas, como o cheiro de alguem especial ou de uma comida preferida. 

  1. Gustativo: o sabor ! Tem relação com as preferências de sabores, as memórias afetivas de algum alimento preferido. 

  1. Interoceptivo: esse sistema é o mais novo a ser estudado. Se refere a percepção dos nossos órgãos internos, como as sensações vindas do intestino, estômago. Essas sensações interferem nas nossas emoções. É normal ficarmos mais irritados, ou desanimados quando estamos nos sentindo doentes, por exemplo.  

Qual a consequência da falta da integração sensorial na alimentação?

Já que entendemos um pouco sobre quais são os sistemas sensoriais, podemos perceber o quanto pode ser desafiante no dia a dia juntarmos todas as informações que recebemos, esse processo neurológico de organizar todas as sensações e dar uma resposta eficiente, é chamado de Integração Sensorial. É o que permite, por exemplo, na hora de almoçar, conseguir integrar informações do sistema proprioceptivo de como estamos sentados, auxiliando  ao sistema tátil ao segurar a colher na posição certa e com a força ideal para levar a comida até boca, com auxílio da visão e do sistema vestibular para acompanhar com os olhos o movimento e posicionar a cabeça para receber o alimento, e junto com o olfato e o gustativo sentir e prever o sabor que irá sentir quando o alimento chegar a boca. Dentre vários outros processos que vão ocorrer ainda neste momento. 

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Ufa ! Quanta coisa acontece em uma simples refeição. Agora imagine, uma pessoa que não consegue organizar todas essas informações de forma adequada. Ela pode perder informações ou perceber de forma inadequada. Se manter sentada, de repente, pode se tornar desconfortável, ou na hora de segurar a colher, usar mais força do que precisa e derrubar muito os alimentos, ou a temperatura da colher o deixa incomodado. Ou não suportar o cheiro ou a textura de algum alimento. Enfim, são várias possibilidades. Esses desajustes podem ocasionar dificuldades de participação e podem fazer com que a criança entre em padrões de desinteresse pela atividade ou entre em padrões de luta e fuga, com muitos choros e gritos.
Com objetivo de auxiliar e alimentar o nosso cérebro com informações sensoriais necessárias e saudáveis, é pensado e organizado as estratégias de uma dieta sensorial.  Estas estratégias são usadas com frequência, por exemplo,  em crianças autistas, que podem se desregular com facilidade e oscilar seu nível de alerta quando expostas à situações que as deixem desconfortáveis, como ir à praia e ter que andar na areia, ter que cortar unhas/cabelos, não suportarem estarem em uma festa devido ao barulho, dentre outras situações. Essas dificuldades limitam muito a oportunidade da criança em participar de forma eficiente em vários ambientes, fazer novas amizades e interagir com os coleguinhas, além de conseguir estar com a família sem que deixem todos em alerta.

Essas tarefas podem ser vistas, como preparatórias, já que, por exemplo, crianças que apresentem dificuldades no processamento tátil, podem se beneficiar de atividades proprioceptivas antes de tarefas que demandem muito do seu sistema tátil, como ter que cortar unhas ou cabelos, ou na escolinha ter que realizar tarefas com muitas texturas.

Como funciona a dieta sensorial?

A dieta sensorial é pensada para a rotina da criança, o que ela precisa fazer, o que é desafio para ela, e como podemos alimentar de forma saudável o seu cérebro para receber essas informações e dar respostas eficientes. Essas estratégias são individuais e especializadas para cada preferência e necessidade específica da criança. Mas, você pode se perguntar:

Por que meu filho precisa  de dieta sensorial?

E a resposta é simples: é através dessas atividades programadas no dia a dia, que fornecemos entrada sensorial de forma organizada e de acordo com que a criança precisa, isso ajudará com que ela esteja regulada durante o dia para executar as tarefas diárias, desde as mais simples como ter uma boa noite de sono, escovar os dentes, cortar as unhas e sentar para comer. Como em tarefas mais complexas, como manter uma boa atenção e foco no ambiente escolar ou interagir de forma apropriada com amiguinhos. 

Quais são as atividades recomendadas na dieta sensorial?

Com base no perfil sensorial e na necessidade de entrada sensorial da criança, são montadas um conjunto de brincadeiras e atividades lúdicas que deverão ser realizadas durante o dia, e que podem ter duração e frequência diferentes, dependendo da disponibilidade e rotina familiar também. Podem ser feitas brincadeiras como carrinho de mão, pular corda, jogos com bola, com texturas (massinhas, tintas, gelecas), circuitos, pintura e desenho e dentre várias outras possibilidades. Essas brincadeiras e atividades são realizadas ao longo do dia para manter um bom funcionamento e inserção em todos os contextos. 

Assim como não existem duas pessoas iguais, não há duas dietas sensoriais semelhantes. A dieta pode combinar atividades para aumentar ou reduzir o alerta. Por exemplo, antes de dormir queremos que a criança relaxe para a atividade de dormir, então tarefas antes desse momento devem reduzir o alerta e acalmar, como fazer uma massagem com hidratante, ouvir uma música mais calma, não fazer uso de eletrônicos, ou utilizar lâmpadas com cores diferentes. Enquanto durante o dia, em crianças que tenham perfil mais quieto, parado ou pouco participativo, iremos propor atividades que aumentem o nível de alerta, principalmente antes de tarefas importantes do dia a dia, como antes de demandas escolares, da hora de comer, tomar banho e etc. Podem ser feitas brincadeiras em balanços, de correr, pular, dar cambalhotas, ou músicas mais agitadas. Tudo o que for de interesse e atender as demandas. 

Dessa forma, entende-se que uma dieta sensorial consiste num conjunto equilibrado de informações sensoriais, que permite que a criança funcione no meio em que está inserida. Uma pessoa não pode sobreviver apenas com um tipo de alimento, ou de um tipo de som, ou um tipo de roupa. Da mesma forma, uma criança não pode funcionar com apenas um tipo de atividade sensorial. O objetivo principal da dieta sensorial é fornecer um estímulo constante e presente na vida da criança, sendo capaz de atuar no sistema nervoso e mantê-la mais organizada. 

Esse estímulo constante é o que faz o corpo entender aquela informação como corriqueira, deixa de ser algo novo, mas algo incorporado à rotina, ao funcionamento. E conforme a criança cresce e se torna mais consciente dos seus próprios processos, ela pode fazer parte dos ajustes dessa dieta, que vai mudando também conforme a faixa etária, e as etapas da vida.

Dietas sensoriais não servem apenas para crianças com problemas sensoriais identificados. Todos nós precisamos de uma dieta com entrada sensorial. A maioria das pessoas participa naturalmente de atos conscientes ou subconscientes que satisfazem suas necessidades específicas.

No seu dia a dia, quantas estratégias sensoriais você usa para se manter atento ? 

  • Pense no aluno que bate a caneta na mesa enquanto faz uma prova. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Você pode andar de um lado para o outro enquanto está no telefone. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Você pode ser uma pessoa que balança a perna enquanto assiste a um filme. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Tomar um café. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Ouvir uma música mais agitada na academia. Essa é uma estratégia sensorial.

E quantas estratégias sensoriais você usa para se manter mais calmo?

  • Tomar um banho quente. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Beber um chá. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Meditar. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Ouvir uma música relaxante. Essa é uma estratégia sensorial.
  • Usar difusor em casa. Essa é uma estratégia sensorial.

>Como vocês puderam ver, todo mundo faz uso de estratégias sensoriais diariamente, por instinto sabemos o que pode nos ajudar a funcionar bem em determinadas situações ou ambientes. Fazemos uso de várias entradas sensoriais diferentes, como num toque de uma coberta fofinha, um cheiro que nos acalma, um gosto de uma comida gostosa, balançar em redes e/ou atividades físicas com alta demanda, mas que nos trazem bem estar. Porém, na maioria das vezes,  crianças que necessitem de uma dieta sensorial, não apresentam habilidades ou apoios suficientes para realizar essas estratégias sensoriais sem intervenções, procurando de forma desordenada por estímulos, se hiperestimulado e não sabendo quando parar uma brincadeira ou situação, ou sendo tão distraídas que deixam passar várias oportunidades. e o excesso e falta são muito prejudiciais em todo o desenvolvimento.

Portanto, uma dieta sensorial precisa ser específica, considerando cuidadosamente o tempo, a frequência, a intensidade e a duração da entrada sensorial. Devido a toda a complexidade que exige, as Dietas sensoriais devem ser elaboradas por um profissional capacitado, para isso um Terapeuta Ocupacional pode lhe auxiliar a avaliar, entender o perfil sensorial da criança, suas preferências, rituais, hábitos, ambientes, e inserir de forma eficiente e funcional, as atividades a serem executadas. E poderá reavaliar e observar a efetividade da intervenção, realizando os ajustes necessários, e modificando conforme a devolutiva dos pais e algumas vezes da própria criança, que pode relatar o que foi legal e funcionou,  e o que não teve tanto impacto real no dia a dia.

Ficou com alguma dúvida? Fale com a gente! Logo no final desta página tem um formulário que está sempre disponível para que você tire todas as suas dúvidas e agende uma avaliação com nossos profissionais!

Luane Marques de Lima Aquino
Terapeuta Ocupacional
Crefito 2 17800-TO

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